“... Eu espero alguém que não desista de mim mesmo
quando já não tem interesse.
Espero alguém que não me torture com
promessas de envelhecer comigo, que realmente envelheça comigo.
Espero
alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amigo dos
meus amigos e mais irmão dos meus irmãos.
Espero alguém que não tenha
medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença.
Espero alguém que
ponha bilhetinhos dentro daqueles livros
que vou ler até o fim.
Espero alguém que se arrependa rápido de suas
grosserias e me perdoe sem querer.
Espero alguém que me avise que estou
repetindo a roupa na semana.
Espero alguém que nunca abandone a conversa
quando não sei mais falar.
Espero alguém que, nos jantares entre os
amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos.
Espero
alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens.
Espero alguém disposto a conferir se a porta está fechada e o café
desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso.
Espero alguém
que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos
erros.
Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade.
Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que
me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado como se ainda fosse
perfume. (Essa do perfume, forçou hein)
Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o
rosto. (Muito menos o saco)
Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído,
que me telefone para narrar como foi seu dia.
Espero alguém que procure
um espaço acolchoado em meu peito.
Espero alguém que minta que cozinha e
só diga a verdade depois que comi.
Espero alguém que leia uma notícia,
veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me
adiantar por e-mail.
Espero alguém
que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar,
que não precise me chamar para amar.
Espero alguém com uma vocação pela
metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se
cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente.
Espero
alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser
engraçado.
Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha
dor com interesse.
Espero alguém que prepare minha festa de aniversário
em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar.
Espero alguém
que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas
pensam a nosso respeito.
Espero alguém que vire cínico no desespero e
doce na tristeza.
Espero alguém que curta o domingo em casa, acordar
tarde e andar de chinelos, e que me pergunte o tempo antes de olhar para
as janelas. (Em casa, prefiro andar descalço)
Espero alguém que me ensine a me amar porque a separação
apenas vem me ensinando a me destruir.
Espero alguém que tenha pressa de
mim, eternidade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o
casaco no sofá e não seja educado a ponto de estendê-lo no cabide.
Espero encontrar (alguém) que me torne novamente necessário...”
— Carpinejar.
— Carpinejar.
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